Eu sou Eliza Samudio

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Finalmente começou o julgamento do Bruno. Bem, pra começar a falar sobre o assunto, não irei me referir a ele como "goleiro Bruno" ou "Bruno do Flamengo". Não foi o time de futebol que cometeu o crime ou a profissão dele que o incentivou a realizar tal ato. Foi ele. Bruno Fernandes de Souza. Não essa imagem que a mídia criou, não esse excelente atleta que os fãs fazem questão de lembrar. Quando alguém rouba, ninguém está ligando se esse ladrão é um ótimo artesão. Quando alguém mata, ninguém está ligando se essa pessoa tem uma voz de anjo. Então, por que nesse caso as pessoas estão adorando separar o Bruno-assassino do Bruno-goleiro? É a mesma pessoa e eu não consigo separar essas duas linhas.

Esse crime é um pouco diferente dos outros pois se trata de um grande nome do futebol brasileiro. E mesmo que não queiram aceitar, o futebol é a alienação do Brasil. Oscar Pistorius matou a esposa e todos os comentários que vi foram de indignação. Ela era linda e não merecia ter uma vida destruída dessa maneira. Ele até era um bom atleta, mas como pode realizar tal ato? Com o Bruno é diferente. Eliza Samúdio era uma prostituta, atriz pornô, não sei ao certo, só sei que era uma "mulher da vida". E Bruno? Ah, o Bruno é um grande goleiro, tem que ser solto logo para poder voltar aos campos e defender todos os gols. 

Entendeu a diferença? 

Tem gente enxergando a popularidade e habilidade do Bruno com o futebol maior do que o direito de vida de Eliza. E tem gente que não vê maldade nisso. Não vê problema em querer que um assassino esteja nas ruas. A questão é que essas pessoas tem a dificuldade de enxergar o Bruno como tal coisa. 

Assassino é uma nomenclatura muito forte e, sem corpo, gera uma dificuldade de ser aceita. Some isso com a falta que o Bruno faz no futebol e você terá uma parcela das pessoas querendo sua liberdade. Deixar livre um homem que foi capaz de matar a mãe do próprio filho. Deixar livre um homem que foi capaz de acabar com a vida de uma jovem. E não, mesmo que tentem justificar, é algo sem justificativa. Não me interessa o passado de Eliza, não me interessa se ela deu o "golpe da barriga". Para ter um filho é necessário duas pessoas e o Bruno foi uma delas. Agora imagina como vai ser aterrorizante para essa criança crescer e descobrir, mais cedo ou mais tarde, que sua mãe foi assassinada pelo seu pai. E não só o filho deles, mas como qualquer criança vendo um crime desses sair impune. Alguns anos na cadeia não vão apagar o que esse homem fez. Alguns anos na cadeia não vão diminuir a dor de uma família que perdeu a filha, de um filho que perdeu a mãe. Alguns anos na cadeia não vão anular o crime que o Bruno cometeu. 

Aqui no Brasil o crime é banalizado. Uma vida não custa nada e um assassino raramente paga pelo crime. Melhor, se me permitem, um assassino nunca paga pelo crime. O que seria necessário uma pessoa que mata a outra sofrer para pagar por isso? Eu não acredito em pena de morte, não pelos direitos humanos ou coisa parecida, mas por que matar esse assassino é impedir que ele cumpra sua sentença. Eu acredito na prisão perpétua, pois ali sim o assassino vai ter um bom tempo para pensar no que fez e rever seus conceitos. E não, eu nunca perdoaria um assassino. 

Só que, infelizmente, não é isso que acontece no Brasil. Aqui, depois de passar vários anos esperando o julgamento, depois de recorrer de todas as formas, esse criminoso não passará mais do que 40 anos na prisão. Temos então que somar o "bom comportamento" e ele conseguirá um regime semi-aberto. Bom comportamento? Como um assassino terá bom comportamento? "Ah, ele não matou nenhum coleguinha dentro da cadeia, já pode viver novamente em sociedade". Não existe bom comportamento para quem já matou da maneira que Bruno matou. 

Então, se vocês se vêem no direito de querer que o Bruno ganhe liberdade para voltar aos gramados e jogar o futebol, eu tenho o direito de não querer que um assassino faça parte do maior entretenimento brasileiro. Eu não quero um assassino nos campos de futebol. Eu não quero um assassino livre. Não quero mais um motivo para ter medo de andar nas ruas. Eu quero acreditar que a justiça, às vezes, funciona. E se não acontece nos casos pequenos, aqui do meu bairro ou do seu, onde um marido mata a esposa e aparece esse tal de "crime passional", que pelo menos aconteça nesses crimes que são estuprados pela mídia. Que pelo menos esses crimes que passam na televisão sejam levados à justiça. 

"Bruno chorou no primeiro dia de julgamento"
Eis a manchete do jornal da noite. 

Bruno chorou. Bruno está arrependido. Bruno quer voltar a jogar futebol.
Eu só acho que a Eliza também queria muitas coisas e uma delas era sobreviver. 

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